
E quando o eu cão e gato forem velhinhos?
Por Dra Ana Carla Leite, médica veterinária Hospital Veterinário Ani Mar
Os animais de companhia apresentam uma esperança média de vida que tem vindo a
aumentar nos últimos anos. Tendo uma fase geriátrica longa é frequente que
surjam problemas e patologias associadas a esta condição.
Os gatos em média
aos 9-12 anos apresentam os primeiros sinais de envelhecimento,
aparecendo de forma subtil e gradual.
Por sua vez, nos cães considera-se que atingem esta nova etapa entre os
5-9 anos de idade e os sinais aparecem de forma mais visível e abrupta.
Nesta fase é aconselhado um maior cuidado que pode passar por os tutores estarem mais atentos a pequenas alterações de comportamento e hábitos, mas também por levarem os seus animais ao médico veterinário uma vez por ano para a realização de check-up.
Um check up compreende anamnese completa (pequeno diálogo sobre as rotinas e hábitos actuais e antigos), exame físico exaustivo e exames complementares.
Os problemas detectados precocemente podem ser tratados com a alimentação e pequenos ajustes nas rotinas, aumentando assim a esperança média de vida, a qualidade de vida dos animais e diminuindo gastos futuros.
De uma forma geral, os principaisproblemas de saúde de cães e gatos geriátricos são:
- Artroses;
- Patologias endócrinas (diabetes, alterações da tiroide etc);
- Doença periodontal;
- Neoplasias;
- Doenças cardiovasculares (cardiomiopatias por ex);
- Patologias visuais e auditivas;
- Doenças renais e hepáticas (50% dos gatos apresentam alterações renais a partir dos 5 anos);
- Disfunção cognitiva.
A escolha de uma alimentação saudável e equilibrada é um ponto-chave para o
aumento da esperança média de vida. As dietas seniores são mais ricas em
vitaminas, minerais e ácidos gordos, possuindo elevada digestibilidade e um
nível proteico adequado à manutenção da massa muscular, daí que um maior
cuidado e investimento na escolha de uma boa alimentação seja fundamental.
Os gatos por diminuição dos seus movimentos podem ficar mais desleixados com a sua higiene precisando de cuidados, que podem passar pelo auxílio na escovagem e banhos mais frequentes.
Muitos gatos idosos têm alterações dentárias (tártaro, gengivite, cáries) que causam dor ou desconforto enquanto se alimentam ou executam o “grooming” natural.
Tal como acontece nas pessoas, os animais geriátricos têm mais dificuldade em andar passando maior parte do tempo deitados. Mas isso não implica que não possam ou devam sair de casa! É recomendado fazerem passeios curtos e frequentes, fazendo pausas caso notem que eles querem descansar. Nos passeios é importante deixar os cães cheirarem! O trabalho do faro na vida de um cão é uma excelente forma de estimulação mental.
No caso do gato brincar com ele regularmente por curtos períodos e de forma controlada, utilizando brinquedos com movimento (para que exercite todo o seu aparelho locomotor) evita a atrofia muscular e mantém as articulaçõese as funções cognitivas mais funcionais.
Devem ser colocados comedouros e bebedouros ao nível do chão, mesmo que numa fase inicial se mantenham outros nos locais onde sempre estiveram. As caixas de areia dos gatos devem ter bordos baixos e se, tiverem uma casa de dimensão considerável devem ter mais do que uma caixa. É importante terem um espaço de dormir confortável e utilizarem pisos rugosos que evitem que escorrem se se possam magoar!
É muito
importante conhecer e reconhecer o envelhecimento fisiológico do sistema
nervoso central.
A Disfunção Cognitiva é um processo degenerativo bastante frequente que leva a
alterações graves no comportamento do animal e que se manifestam por:
- Desorientação;
- Stress;
- Não reconhecer os tutores;
- Perda de visão, olfato e audição;
- Sensação de ver objetos no ar;
- Inquietação;
- Urinar e defecar em sítios que não eram habituais;
- Uivar/comportamentos anormais;
- Agressividade inesperada;
Para a disfunção cognitiva e para muitas outras patologias (a maioria citadas acima) existe medicação que pode ajudar a atrasar o processo. Não vamos conseguir curar totalmente uma doença crónica, mas conseguimos proporcionar-lhes um aumento da qualidade de vida e um retardamento do aparecimento dos seus sinais clínicos.
Ter o animal de companhia presente por mais 2-3 meses ou até 1-2 anos é muito significativo para os tutores, afinal eles fazem parte da família.
As estruturas hospitalares estão cada vez melhor equipadas e além de atendimento permanente há um acompanhamento 24 horas (nas clínicas não há acompanhamento noturno, daí que não seja permitido o internamento) o que nos permite ter uma medicina veterinária cada vez mais avançada permitindo além de diagnósticos mais precisos e precoces, tratamentos especializados. Actualmente meios de diganóstico como a ecografia ou mesmo o TAC fazem parte das rotinas dos centros veterinários e é muito fácil a sua utilização nos casos clínicos.
Não devemos desistir deles, porque eles nunca desistem de nós!