
Os animais têm Alzheimer?
De facto, algumas lesões associadas à doença de Alzheimer em pessoas foram detetadas em cães e gatos geriátricos, sendo o cão usado muitas vezes como modelo de estudo para esta patologia.
Sabe-se que sistema nervoso central sofre algumas alterações durante o processo de envelhecimento do animal. O cérebro sofre alteações estruturais devido ao stress oxidativo celular, deposição de placas amiloides (muito semelhantes ao que se deteta nos humanos), insuficiência vascular e outras inespecíficas.
Nas pessoas o Alzheimer é um subtipo de demência, enquanto que nos cães e gatos todas as apresentações se denominam por Disfunção Cognitiva Sénior (DCS).
Como saber se o meu animal tem DCS?
Esta é uma patologia cuja prevalência e conhecimento foi aumentado ao longo dos últimos anos, devido ao facto dos nossos animais viverem cada vez mais anos e com acesso a melhores cuidados de saúde veterinários.
A disfunção cognitiva sénior caracteriza-se por uma perda progressiva da função cognitiva do animal.
Este declínio resulta em défices de aprendizagem, memória e perceção espacial, bem como em alterações nos padrões de sono e interação social.
Os sinais visíveis que o animal apresenta são, por isso, comportamentais. A lista é extensa, mas podemos assistir a um animal que passa a noite acordado/agitado e o dia a dormir, um animal que se perde em sítios familiares ou que começa a urinar dentro de casa. Podemos também assistir a um aumento da agressividade perante pessoas ou animais conhecidos, aumento da ansiedade de separação, vocalização excessiva etc.
O diagnostico é feito através de questionários de comportamento e é necessário que haja uma relação de confiança entre tutor e médico veterinário, uma vez que muitas vezes estes comportamentos não são referidos em consulta por serem considerados “velhice” ou por muitas vezes serem idênticos aos de outras patologias que o animal possa ter.
A partir de que idade devo estar atento aos sinais?
A partir dos 8 anos é aconselhável ter esta patologia em mente e falar com o seu medico veterinário habitual sobre pequenas mudanças que possam estar a ocorrer. Os sinais mais críticos ocorrem por volta dos 10anos. Quanto mais precoce o diagnóstico maior a hipótese de a doença evoluir mais lentamente.
A DCS tem tratamento?
A DCS é um processo que não tem cura mas que pode ser retardado e a qualidade de vida do animal melhorada.
O tratamento passa pela utilização de alguns fármacos e suplementos mas também por um reforço de estímulos ambientais, como por exemplo: mais passeios curtos ao longo do dia; mais interação através de jogos com o tutor, prática de ordens simples como “senta”, “fica”, “deita” com reforço positivo, diminuição de estímulos stressantes, manutenção de uma correta higiene e dieta.
Da próxima vez que for com o seu “velhote” ao veterinário, exponha a suas dúvidas e de certeza que irá encontrar pequenas soluções para melhorar a vida do seu pet.
Por Dra. Filipa Samúdio, médica veterinária do Hospital Veterinário Ani Mar
Artigo de Março 2022, no Jornal Mais Semanário