Obesidade em animais de companhia – Como gerir?
Nos últimos anos tem-se assistido a um aumento progressivo no número de casos de excesso de peso e obesidade nos animais de companhia. Embora existam diversos fatores inerentes ao próprio animal que possam estar na origem deste problema de saúde, a maior parte das vezes trata-se de uma situação induzida pelos tutores, essencialmente devido às alterações drásticas no estilo de vida da sociedade nas últimas décadas.
Entre os fatores inerentes ao animal, destacam-se:
- predisposição genética e racial: existe uma tendência natural para o excesso de peso em determinadas raças
- idade: com o avançar da idade a taxa metabólica diminui e os animais tornam-se naturalmente menos ativos
- estado reprodutivo: em animais esterilizados há uma tendência natural para o aumento de peso
- patologias endócrinas: hipotiroidismo, hiperadrenocorticismo, acromegália
No que diz respeito às causas controláveis pelos cuidadores, prendem-se essencialmente com o facto de proporcionarem aos animais um balanço energético positivo, ou seja, uma ingestão de calorias superior ao seu gasto.
A obesidade é uma doença que acarreta muitos problemas de saúde para os animais de companhia, levando a uma diminuição da sua esperança média de vida, comparativamente aos que apresentam uma condição corporal ideal, considerando-se vital a prevenção e correção destes casos. Para além de afetar a locomoção, função respiratória e cardiovascular, nos gatos com excesso de peso verifica-se ainda um aumento da probabilidade de desenvolvimento de outras patologias, tais como:
- diabetes mellitus tipo II: caracteriza-se por um aumento dos níveis de glicose no sangue, devido a uma diminuição da sensibilidade das células à insulina
- lipidose hepática: ocorre quando um gato fica algum tempo sem comer por algum motivo, havendo mobilização de gordura para compensar a falta de energia, que se vai acumular no fígado levando ao seu mau funcionamento;
- doenças do trato urinário inferior: há maior propensão para a formação de cálculos urinários, que por sua vez podem originar cistites recorrentes.
Depois de se descartar outras patologias que possam estar na origem do aumento de peso do animal, deve ser feito um plano de emagrecimento de forma saudável, que passa pela correção do balanço energético, isto é, diminuição da ingestão calórica e aumento do gasto energético.
O aumento da atividade física pode ser conseguido através do aumento do tempo dos passeios, do enriquecimento do ambiente e da maior interação do dono com o seu animal. Já no que diz respeito à alimentação, é importante ter em conta não só a quantidade, mas também a qualidade do alimento oferecido. Atualmente existem rações comerciais completas de excelente qualidade, adaptadas à estatura e condição corporal dos animais, facilitando muito este processo de controlo de peso. No entanto, é fundamental contabilizar todos os “extras” oferecidos como calorias ingeridas, já que muitas vezes os snacks e biscoitos comerciais são muito ricos em calorias, levando ao insucesso do plano estabelecido.
A deteção precoce e a prevenção do problema são de extrema importância para evitar danos graves na saúde animal. Como tal, é essencial o acompanhamento veterinário regular desde o nascimento, adaptando a alimentação e o estilo de vida a cada fase do desenvolvimento, de forma a garantir a melhor qualidade de vida possível, desde sempre, a cada animal.
Por Dra. Francisca Maia, médica veterinária no Hospital Veterinário Ani Mar
Artigo de Agosto de 2021, no Jornal Mais Semanário

